Centenário de Ana Primavesi: a Mãe da Agroecologia no Brasil
Data da publicação: 6 de outubro de 2020 Categoria: Sem categoriaCENTENÁRIO DE ANA PRIMAVESI: A MÃE DA AGROECOLOGIA NO BRASIL
In memorian
Quem tenta agradar a terra,
agrada às plantas.
E quem quer confortar as plantas,
conforta a si mesmo,
porque elas agradecem
com uma produção farta,
nutritiva e barata.
Ana Maria Primavesi
Em 3 de outubro, a engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi, precursora da agroecologia no Brasil, completaria 100 anos. Infelizmente, Ana nos deixou em 5 de janeiro deste ano. Naquele dia, Virgínia Mendonça Knabben, geógrafa e biógrafa de Primavesi, comparou sua morte à queda de um imenso jatobá centenário: “jatobá sagrado da agricultura, árvore mestra, a matriz de todos nós”.
Para comemorar o centenário dessa grande cientista compromissada com a proteção e defesa da vida, que compreendeu o solo vivo como base da agroecologia, para a produção de alimentos saudáveis para todos, a Expressão Popular publicou uma obra inédita, dando continuidade à missão de divulgação científica na Série Ana Primavesi, iniciada em 2015 quando tivemos a honra de receber os direitos autorais de Ana e sua família, especialmente dos filhos Carin Primavesi Silveira e Odo Primavesi.
Cartilha da Terra, tal como os contos A Convenção dos Ventos, é um texto histórico, escrito em 1970, voltado para extensionistas e produtores rurais. Trata-se de seu primeiro livro póstumo. Um livro-testamento no qual se dirige às camponesas e aos camponeses, aos estudantes de diferentes cursos, às educadoras e educadores, para a tarefa de conhecer os princípios fundamentais da natureza e para a produção agroecológica.
Como explica o filho Odo Primavesi, no prefácio, Cartilha da Terra era originalmente uma apostila, com o objetivo de orientar de forma didática as práticas para manter um solo vivo. Ana ensina os leitores a reconhecerem os sinais de morte do solo, os elementos primordiais da vida, e saber como realizar um manejo agroecológico, restabelecendo a vida do solo e a produção agroecológica. Para Odo, “neste texto, Ana, de maneira indireta, explica como colocar enorme quantidade de organismos do solo com diferentes funções […]. Um preâmbulo para sua obra mais significativa, o Manejo ecológico do solo, com 549 páginas, publicado em 1980”.
Dividido em três partes, Cartilha da Terra inicia com reflexões sobre “A terra, essa desconhecida”, questionando a estreita percepção urbana da “terra que apenas suja os pés” ou dos acionistas do agronegócio que compreendem “a terra como suporte para insumos, sementes e água”. E, a partir daí, apresenta os elementos fundamentais para a recuperação do solo vivo. Na segunda parte, “A terra e seu trato”, a autora demonstra a tese do equilíbrio dinâmico da natureza para a produção agroecológica no solo tropical. E, por último, na terceira parte, “O solo e sua vida” é também um texto histórico, de 1950, presenteado por Ana ao marido Artur em comemoração aos seus 32 anos, que dará origem à obra de referência, Manejo ecológico do solo.
Trecho do texto
“Outros ainda consideram a terra um organismo vivo, uma parte viva do meio ambiente onde se entrelaçam solo-planta-clima. A terra dá às plantas as condições para crescer; as plantas fornecem à terra matéria orgânica para viver; e da cobertura vegetal que a terra pode manter depende o clima local. Terra de mata é diferente da de pastagem, e esta da de terra de cultura, mesmo se partiram da mesma unidade taxonômica, do mesmo tipo de solo. Tudo é constituído por ciclos. Cada estágio é importante para que o ciclo se conclua. E tudo que vive em cima da terra é constituído por ela e, por sua vez, a transforma”.
Ficha técnica
115 páginas
Expressão Popular / Tricontinental
Formato: 14 x 21
1ª edição, setembro de 2020
ISBN: 978-65-991-365-42
Preço: R$ 25
Coleção Agroecologia – Série Ana Primavesi
Ana Primavesi é considerada precursora da Agroecologia no Brasil. Em dezembro de 2018, Primavesi (1920) foi homenageada com a criação do Dia Nacional da Agroecologia em 3 de outubro, dia de nascimento, e com o Prêmio Ana Primavesi para as iniciativas de produção agroecológica.
Uma homenagem mais que merecida. Sua trajetória de vida é longa e em nenhum momento a agrônoma abandonou a causa da agroecologia e do direito à vida. Ana nasceu na Áustria e, como os jovens de sua geração, viveu o terror do nazismo e encontrou na natureza e na agroecologia o sentido humanista para a vida. Estudou na Universidade Agrícola de Viena, com conclusão em 1942. Doutorou-se em Cultura de Solos e Nutrição Vegetal. Em 1946, Ana casou-se com Artur Primavesi (1918-1977), pesquisador com quem compartilhou ciência e vida por mais de trinta anos. Artur Primavesi, além de pesquisador, era fazendeiro, diplomata e também doutor em agronomia, e decidiu vir com Ana para o Brasil, em 1948, onde continuaram suas pesquisas.
No Brasil, Ana e Artur foram pesquisadores e professores na Universidade de Santa Maria (RS), instituição na qual Artur fundou o Instituto de Solos e Culturas e criou o primeiro curso de pós-graduação (Produtividade e Conservação do Solo); também trouxe para a cidade o Segundo Congresso de Biologia de Solos da América Latina patrocinado pela Unesco.
Ana Primavesi foi reconhecida como engenheira agrônoma, pioneira na preservação do solo e na recuperação de áreas degradadas, em 2012, com o título One World Award, prêmio de destaque da agricultura orgânica, pela referência teórica e prática aos produtores orgânicos no Brasil. Em dezembro de 2018, Ana Primavesi foi homenageada com a criação do Dia Nacional da Agroecologia em 3 de outubro, dia de nascimento, e com o Prêmio Ana Primavesi para as iniciativas de produção agroecológica.
O solo é tudo para Primavesi, a produção agroecológica está relacionada com a saúde da terra: “Solo é vida e é a base da vida. Há muita vida nele e muita dependência dele”. Atualmente, é considerada uma das mais importantes pesquisadoras na área da agroecologia e da agricultura orgânica. Como fruto de anos de pesquisa – em laboratórios e com agricultores –, desenvolveu a ideia de que o solo tem vida, e que é a base de todo organismo vivo.
Essa compreensão se contrapõe à ofensiva, que se iniciou com o fim da Segunda Guerra Mundial e ganhou força nos anos de 1960, por parte das indústrias químicas na produção de agrotóxicos, conhecida também como “revolução verde”. Mesmo sendo combatida por contrariar essa lógica, ela se manteve firme e incansável em sua defesa da vida do solo, base de toda vida.
ANA PRIMAVESI E A DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA AGROECOLÓGICA
Comprometida com a pesquisa científica e com a implantação da agroecologia no Brasil, Ana Primavesi sempre se preocupou em publicar os resultados de suas investigações tanto para os estudantes e especialistas da ciência agroecológica quanto para a aplicação prática junto aos trabalhadores rurais.
Sua obra é referência tanto no meio acadêmico quanto na produção agrícola e pecuária cuja matriz é agroecológica, com a recuperação, manutenção e desenvolvimento da vida, desde o solo, do meio ambiente como um todo, ar, água, e todos os seres vivos envolvidos. Com isso, Ana demonstrou o malefício causado pelo uso de agrotóxicos na produção agrícola e as alternativas para o manejo ecológico das chamadas “pragas”. Em suas obras, estudiosos/as da área e trabalhadores/as rurais encontraram muitas alternativas para a obtenção de um método científico voltado para a transição da produção agroecológica. Ana acompanhou e apoiou várias instituições relacionadas à causa da produção agroecológica, como Mokiti Okada, AAO, Maela, Ifoam, MST, associações de engenheiros agrônomos, associações estudantis, e ministrando palestras, cursos de mais de uma semana para professores de universidades, cooperativas e associações de agricultores, tanto no Brasil quanto na Espanha, México, Argentina, Colômbia, Equador, Venezuela, Porto Rico, Cuba, Chile, Paraguai , Colômbia etc. Ana atendia a todos que a requisitavam.
A amizade entre Ana Primavesi e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocorreu de forma natural entre aqueles que respeitam a terra, a natureza, o alimento saudável, e a humanidade. Nesse encontro da ciência agroecológica com o movimento popular, Ana concluiu com alegria: “Agora eu sei que a Agroecologia não tem volta”. De acordo com José Maria Tardin, militante do MST, do Setor de Produção e Cooperação do Meio Ambiente, e da Frente Nacional de Agroecologia, “a sua obra, em toda sua amplitude, foi sendo mais e mais apreendida no interior do MST. No início, por técnicos que vivenciaram sua formação acadêmica organizados na Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB), ativa nos embates no interior dos cursos de agronomia pelo país desde os anos de 1970. E o momento decisivo passa a ser o IV Congresso Nacional do MST, realizado em Brasília no ano 2000, quando se delibera pela agroecologia como orientadora da reconstrução social e ecológica da produção nos assentamentos e acampamentos .Veja que, para o MST, a apreensão dos conhecimentos desenvolvidos e publicizados por Ana Primavesi vai se ampliando desde as experiências práticas em vários assentamentos e fundamentará os currículos e o ensino nos cursos técnicos médio, graduação e pós-graduação em agroecologia, e agora, no âmbito da educação das crianças e jovens Sem Terra.”.
Com a dificuldade de publicar e reimprimir seus livros, combatidos pela indústria química de agrotóxicos, Ana viu na Editora Expressão Popular a possibilidade de continuar a divulgação de suas pesquisas no sentido do avanço da agroecologia no Brasil. No início, os primeiros títulos foram acolhidos na Coleção Agroecologia da Editora Expressão Popular, mas os editores ao realizarem a empreitada de atualizar essas obras de referência, compreenderam a importância de criar um selo especial na coleção, a Série Ana Primavesi, em 2015.
NOTA EDITORIAL
A Editora Expressão Popular foi agraciada, em 2015, com a cessão dos direitos para publicação das obras de Ana Maria Primavesi (a qual inclui contribuições de Artur Barão Primavesi e de seus filhos Odo e Carin). Um deferimento que nos desafia a lutar com domínio dos fatos contra o modelo agroquímico e de commodities que está em conflito aberto com quem se pauta pela defesa do “solo sadio, planta sadia, homem sadio”.
Suas contribuições vêm desde inícios dos anos de 1950 até os dias atuais. Não seguiremos uma ordem cronológica nas publicações, isso pouco ou nada altera o resultado de sua laboriosa pesquisa e formato de exposição. O que mais importa é o resultado final que queremos deixar como legado aos nossos estudiosos e militantes da causa agroecológica.
Sua obra é um todo de pesquisa, militância e contribuição à causa da agroecologia. Sua força está no seu conjunto. Sua identidade está materializada em textos nas mais diferentes formas de defesa da vida do solo, das plantas e da humanidade. Apesar de alguns terem sido formulados há 60 anos, eles conservam sua força e atualidade. Eles serão republicados aqui com revisões de texto, sem qualquer modificação em seu conteúdo ou formulação.
Cada obra contém o registro da história daquele momento, o estágio da pesquisa e o debate realizado. Afinal, história é memória materializada em suas variadas maneiras: falada, escrita, vivenciada, celebrada.
Agradecemos à solidariedade de Ana Primavesi e de sua família pela cessão dos direitos de publicação. Criamos em nossa coleção de Agroecologia a “Série Ana Primavesi” que identificará as suas obras. Viva Ana Maria Primavesi, dos agricultores praticantes da agroecologia!
Os editores
Ana Maria Primavesi – histórias de vida e agroecologia
Virgínia Mendonça Knabben
Algumas plantas indicadoras – como reconhecer os problemas do solo
Ana Primavesi
A biocenose do solo na produção vegetal
& Deficiências minerais em culturas – nutrição e produção vegetal
Ana e Artur Primavesi
Cartilha da terra
Ana Primavesi
A convenção dos ventos – agroecologia em contos
Ana Primavesi
Manejo ecológico de pastagens em regiões tropicais e subtropicais
Ana Primavesi
Manejo ecológico e pragas e doenças
Ana Primavesi
Manual do solo vivo
Ana Primavesi
A terra e o arado
Ana Primavesi
________________________________________________________________________________________
EDITORA EXPRESSÃO POPULAR
Rua Abolição, 201 – Bela Vista
CEP 01319-010 – São Paulo – SP
Tel: (11) 3112 0941 / 3105 9500
divulgacao@expressaopopular.com.br
Facebook – ed.expressaopopular
Instagram – editoraexpressaopopular
Twitter – @expressaopop